terça-feira, 27 de março de 2012

A cidade e as árvores

ANTÓNIO MARQUES DA CRUZ
Membro da Direção da ADLEI


As cidades, e Leiria não é excepção, são formadas por grandes extensões de materiais inertes: pavimentos de asfalto, pedra, edifícios, placas e postes metálicos...

Esta extensão ininterrupta de materiais inertes traz à cidade alguns problemas como, por exemplo, a impermeabilização do solo que provoca a acumulação rápida e em quantidade das águas pluviais nas zonas mais baixas, o aumento da amplitude térmica diária e anual pelo intenso arrefecimento nocturno dos materiais inertes e pelo seu intenso aquecimento ao Sol durante o dia, a acumulação de poeiras e óleos.


Assim as cidades contemporâneas mais sofisticadas são infraestruturadas não só com a rede viária, esgotos, electricidade, transportes, etc. mas também com uma Estrutura Verde Contínua que interrompe a extensão dos materiais inertes da cidade.


A árvore de arruamento é um elemento fundamental da Estrutura Verde Urbana. As suas copas, troncos e raízes conduzem a água promovendo a sua infiltração no solo, fixam as poeiras e a poluição, regulam a temperatura e a humidade do ar, abrigam os pássaros, as de folha caduca dão sombra no Verão e deixam passar o Sol no Inverno, etc. E depois há ainda as funções, digamos, de ordem estética e psicológica como a presença da Natureza dentro da cidade ou a marcação do tempo cíclico das estações e do tempo linear dos anos.

Uma árvore de arruamento com bom porte constitui uma enorme contribuição para a qualidade do espaço público urbano e no entanto constata-se com consternação que se tem erradicado paulatina mas firmemente as árvores das ruas de Leiria entre podas radicais e simplesmente o corte total.

As árvores da Av. 25 de Abril foram retiradas porque não se via o Castelo a partir do Estádio durante o Euro 2004 e ainda passámos a ter que ver o Estádio a partir do Castelo. As da rua Dr. José Jardim, volta e meia, têm sido “raptadas” por razões desconhecidas, as da Av. Marquês de Pombal foram substituídas por umas novinhas em folha e com poucos km mas muito mais pequenas é claro. Infelizmente exemplos não faltam.

Ribeiro Telles no seu livro "A Árvore" refere: “Todos os anos no fim do Inverno saem (…) brigadas de homens armados de serrotes e tesouras a podar os arvoredos das ruas das cidades”.

Uma destas brigadas atacou neste fim de Inverno princípio de Primavera algumas ruas da cidade de Leiria, levando-nos as flores da Primavera e a sombra do Verão...

in Diário de Leiria, 26 de março de 2012

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