ANABELA GRAÇA
Presidente da ADLEI
Ao percorrer e olhar para Leiria e o seu concelho constata-se que há ainda muito a fazer. Desde logo na cidade onde facilmente se vê a falta de ligação e presença dos leirienses no espaço público e que importa trazê-los para a rua enquanto espaço de convívio e de sociabilidade. A cidade esvaziou-se de pessoas, por razões que se prendem com a atracção que representa o centro comercial, mas também pela inexistência de condições e iniciativas que possam chamar os cidadãos.
O comércio tem definhado e o cenário no centro histórico é sempre o mesmo – abandonado e vazio. Para alterar a situação seria necessário criar condições para povoar a baixa da cidade com gente mais jovem que pudesse encontrar no mercado de arrendamento uma solução para a sua vida, acreditando-se que esta seja a tendência objectiva nos próximos anos, atendendo às restrições de concessão de crédito que se avizinham. Tornar a cidade mais viva e habitada deve, portanto, ser uma prioridade, tal como a de criar condições para reabilitar a periferia urbana onde as carências são patentes, quer de espaços públicos qualificados, quer de equipamentos sociais. No plano ambiental a solução tão desejada de uma bacia hidrográfica do Lis livre de poluição arrasta-se inexplicavelmente.
Por outro lado, em termos culturais, tem-se sentido um abrandamento da dinâmica, no que diz respeito à realização de eventos culturais regulares. Temos alguns exemplos: o MIMO, que precisa de aprofundar a sua relação com a cidade e o concelho, o castelo, que continua altaneiro, incomunicável e inacessível, o Mercado de Santana ao abandono, ainda que requalificado e a Feira de Velharias, que não dignifica a “sala de visitas da cidade”.
Deslocalizar serviços para o centro da cidade poderia, também, trazer vantagens, promovendo um maior afluxo de pessoas. Contudo, faz falta o estacionamento mais barato, tendo a privatização deste serviço contribuído para que cada vez menos pessoas se passeiem pela urbe.
A política de transportes urbanos deu passos, mas insuficientes. O serviço não é apenas escasso, é o seu próprio funcionamento que não é conhecido. A Câmara prestaria um bom serviço público se estivesse atenta às reais necessidades dos cidadãos, apresentando soluções de mobilidade urbana mais eficazes.
A insegurança está a instalar-se na vida dos comerciantes e das pessoas em geral. A falta de policiamento e de vigilância terá que ser enfrentada e resolvida, sob pena de caminharmos para um futuro mais incerto.
Deviam privilegiar-se soluções marcadas pela relação da cidade com a natureza. Neste contexto, a inclusão de verde urbano pode ser crucial e proporcionar múltiplos aspectos de bem-estar, de saúde e de satisfação cultural, humanizando as ruas com árvores adequadas.
Falta uma visão que promova o futuro, não deixando de olhar para o passado, tentando emendar erros, apostando na novidade e na ruptura. Falta brio nas coisas que podem distinguir Leiria. Por essa razão, são necessários projectos que façam vibrar o espaço público e apelem a uma maior participação de todos na resolução dos problemas da cidade.
in Diário de Leiria, 20 de Maio de 2011
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