terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Cidadania activa

GRAÇA SAMPAIO
Associada da ADLEI

Cidadania tem a ver com os outros. E nós estamos cada vez mais centrados em nós próprios. Temos – aqueles que têm – a nossa casa, os nossos equipamentos, o nosso carro, o nosso emprego, a nossa família e pensamos que tudo isto nos basta para sermos cidadãos felizes. E, de facto, assim parece. O pior acontece quando uma ou outra destas componentes falha e nos começamos a sentir sozinhos, incompletos, infelizes.

Muitas vezes, só quando nos acontece um percalço na vida nos apercebemos que não existimos só nós e há que lançar mão do que os outros tenham para nos oferecer – e têm muito!

Muitas horas se gastam nas escolas (e que agora se perderão mercê da última operação cirúrgica realizada nos currículos) a educar as crianças e os jovens para a cidadania, que mais não é que prepará-los para uma vida de convivência democrática no cumprimento de todos os direitos humanos sempre indissoluvelmente aliados a determinados deveres que concorrem de igual modo para essa convivência. O sentido do dever para com o próximo, para com os membros da família, da comunidade, do país, é das facetas da cidadania que a escola teima em inculcar nos alunos desde as idades mais verdes.

Assim, tem-se preparado os jovens para o exercício de uma cidadania ativa levando-os a realizar atividades que em tempos nada tinham a ver com a escola e que são, por exemplo, trabalhos de voluntariado, de visita a lares de idosos, convívio real com crianças e jovens diferentes, de organização de pequenos bancos alimentares, de visitas a hospitais, no intuito de que amanhã consigam ser verdadeiros cidadãos ativos.

Muitos deles, porém, mercê da sua educação de base e das vivências a que estão sujeitos nos ambientes muitas vezes degradados, ou apenas de verdadeiro egoísmo, em que se movem, dificilmente conseguem absorver aqueles ensinamentos e aí temos adultos, como muitos de nós conhecemos bem, capazes de desrespeitar os idosos e as crianças, dominar pelo medo as pessoas mais frágeis exercendo sobre elas violência. A violência doméstica e o abuso de crianças a que se assiste, incompreensivelmente, cada vez mais, são dos maiores flagelos e das maiores vergonhas a que assistimos – quantas vezes sem nada fazer ou dizer – dentro de uma conjuntura histórico-geográfico-social que tem – ou deveria ter – todos as ferramentas para, senão evitá-las, pelo menos combatê-las.

E, como comecei, termino: a Cidadania tem a ver com os outros, mas lembremo-nos que, muitas vezes, os outros podemos ser nós.

in Diário de Leiria, 16 de janeiro de 2012

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