JOÃO ELISEU
Associado da ADLEI
Na reunião da Câmara Municipal de Leiria, de 4 de Março de 1937, foi deliberado que o Marachão, entre o edifício da actual Entidade Regional de Turismo e a Ponte do Arrabal, passasse a ser denominado por Alameda Dr. José Lopes Vieira. É por isso que, na proximidade daquele edifício, existe um plinto toponímico confirmando tal decisão.
Embora bacharel em filologia, José Lopes Vieira tirou posteriormente, em França, o curso de engenheiro silvicultor, tendo-se especializado nos novos métodos florestais de correcção torrencial. E, foi face a esta sua especialização que a cidade de Leiria muito lhe ficou a dever.
Com o aumento da população, e a consequente desarborização verificada, a partir do início do século catorze, das colinas e das zonas médias da bacia hidrográfica do Rio Lis, iniciou‑se, nas mesmas, um processo de erosão torrencial, com o consequente transporte, para juzante, de volumes consideráveis de materiais arenosos, dado que muitas linhas de água tinham declives pronunciados e atravessavam terrenos de fácil desagregação.
Com a deposição dessas areias, no leito do Rio Lis, e com a consequente redução da sua secção de vazão, já em 26 de Março de 1475 se registou em Leiria a primeira grande inundação. E outras grandes inundações se verificaram, sendo memoráveis as de Junho de 1596, Dezembro de 1600, Junho de 1617 e Novembro de 1646. Por esse motivo, a Real Casa do Infantado, que superintendia nos campos de Ulmar, viu-se forçada, em 1720, a desviar o curso do Rio Lis dentro da cidade, para o percurso actual, afastando-o da proximidade da actual Praça Rodrigues Lobo, e tornando-o mais curto e regular.
A progressiva deposição de areias, no novo troço, em breve originou novas inundações, pelo que em 1875 a edilidade iniciou a construção de muros e motas em ambas as margens do rio. Isso não impediu que em Novembro de 1900, com uma enorme cheia, e com a sua destruição parcial daquelas motas, se tivesse verificado nova inundação da cidade, com prejuízos consideráveis.
Como em 24 de Dezembro de 1901 foram instituídos, no país, os serviços de hidráulica florestal, foi simultaneamente determinado que, a título de ensaio, os trabalhos fossem iniciados na bacia hidrográfica do Rio Lis, sob a responsabilidade do engenheiro José Lopes Vieira.
Este técnico percorreu as linhas de água tributárias do Rio Lis, seleccionando as que necessitavam de trabalhos de correcção e estabilização e, a rápida elaboração de projectos e orçamentos permitiu que os trabalhos se iniciassem, logo em 1902, em linhas de água da zona da Caranguejeira. Complementando esta actividade foram submetidos ao regime florestal, em 8 de Outubro de 1903, diversos baldios das freguesias de Caranguejeira, Marrazes e Pousos, onde se realizaram trabalhos de arborização.
Os resultados foram notáveis e imediatos na zona da Caranguejeira e, em breve, na cidade começava a verificar-se o aprofundamento do leito do rio. Pena foi que aquele brilhante técnico tivesse sido surpreendido pela morte, em pleno trabalho, em 26 de Novembro de 1907.
Os trabalhos de correcção torrencial prosseguiram, mas a um ritmo bastante lento, até que em 1941, agora sob a direcção do engenheiro Mário Amaro dos Santos Gallo, tiveram o incremento que permitiu posteriormente avançar com a regularização do Rio Lis, até à sua foz, e à recuperação dos férteis campos do Vale do Lis.
in Diário de Leiria, 5 de Setembro de 2011