terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O futuro começa já amanhã

PEDRO MELO BISCAIA
Ex-Presidente da ADLEI

Por mero acaso, li um provérbio oriental que dizia “ninguém tropeça numa montanha”! Há, subsequente a estas palavras da ancestral sabedoria meditativa de raiz pragmática, uma curiosa noção de estratégia prospectiva, entendida como a forma de tomarmos, hoje, as opções decisivas para o futuro. A dimensão da montanha, ou se quisermos do problema, determina que se encontrem modos de a/o contornar ou de a/o superar através de uma abordagem coerente e eficaz, podendo daí resultar a descoberta de oportunidades onde, aparentemente, só existiam dificuldades intransponíveis. Esta via exige arrojo e mobilização dos meios existentes, sabendo usá-los na proporção adequada entre as necessidades e as possibilidades. Pelo contrário, o que nos faz tropeçar, são pequenos escolhos a que nem sempre damos a atenção devida, são os imprevistos para os quais não temos resposta preparada ou são os obstáculos sobre os quais fazemos uma avaliação diagnóstica insuficiente.

Esta ilação, suscitada pelo referido provérbio oriental, aplica-se quer à vida de cada um, quer à gestão de organizações ou à governação da cidade. O grande problema, quando devidamente identificado, pode ser enfrentado através de uma equilibrada alocação de recursos, na definição de uma hierarquia de prioridades ou na definição de uma sequência de acções pró-activas. Ou, em extremo, poderá ser evitado numa conduta mais esquiva seguindo o conselho que Sun Tzu escreveu há 2000 anos: “ dominar o inimigo sem o combater, isso sim, é o cúmulo da habilidade”. Porém, são as pequenas dificuldades, aparentemente desconexas entre si que, uma vez somadas, podem tolher os nossos passos distraídos da realidade concreta. Dito isto, creio que o planeamento estratégico, sendo um instrumento essencial de gestão prospectiva, não pode ofuscar os pequenos-grandes nadas de que se reveste o nosso presente e que definem a qualidade do quotidiano dos cidadãos. Assim sendo, a participação (formal e informal) de um alargado número de actores sociais no debate associado à decisão, é fundamental para inventariar as legítimas aspirações comunitárias permitindo, em fase posterior, sintetiza-las em vectores seguros de desenvolvimento colectivo e, simultaneamente, ir implementando acções de demonstração do rumo pretendido.


in Diário de Leiria, 6 de Dezembro de 2010

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