segunda-feira, 12 de setembro de 2011

LEIRIA - Que turismo?

ACÁCIO DE SOUSA
Ex-Presidente da ADLEI


Perdido o estatuto de sede de “Região de Turismo”, a actual “Entidade de Turismo Leiria-Fátima (ETLF)” está sem dinheiro, diz a imprensa, numa conjuntura que agrava as dificuldades de persuasão junto aos diversos parceiros públicos.

Ao longo dos últimos anos, os problemas herdados justificaram-se com a má vontade dos governos. A avaliação de um núcleo que deve ser promotor de competências de alta atracção para o turista e de orientação de prioridades não tem vindo a público e neste negócio o que importa é cativar um largo segmento de mercado que deixe dinheiro e valide o investimento dos parceiros.

Dominando na opinião pública que é um destino de satisfação partidária, está a ETLF em risco, ainda mais com o pessoal que ali trabalha? E as funções desta casa terão que ser todas suportadas pelo erário público?

Em 2007, anunciava-se o PENT - Programa Estratégico Nacional do Turismo, problemátco para o Turismo de Leiria-Fátima. A ADLEI organizou, então, o seu IV Congresso com uma secção dedicada a esta questão. A sobranceria como isto foi encarado pelas autoridades locais foi esclarecedora. Em síntese, tínhamos Fátima e isso bastava. As entidades oficiais cingiram-se à vulgar publicidade e um ex-responsável que se aprestou a trazer alguma coisa de novo, mandou para acta um texto que nada tinha a ver com o que disse. Perdeu-se uma oportunidade de debate sério e forte.

Na altura, o Turismo do Oeste recusou participar, ouvindo eu já a mesma resposta que acabou agora por ser dada em tom mordaz com os ases na mão, às recentes pretensões de Leiria, a propósito de uma urgente ideia de fusão. Mais ou menos assim: “então não têm lá Fátima que vos chega? Não é lá que está a qualidade?”.

Ora, uma coisa é Fátima enquanto local de culto. Outra, é Fátima como pretensão de absoluto destino turístico, devendo-se distinguir quantos são os verdadeiros turistas entre os milhões que a visitam anualmente, e o que temos de inovador para lhes oferecer.

Alguém, por cá, garantiu um produto que fosse um verdadeiro “colar de pérolas” irresistível e identificado numa análise paga há uns anos? Ou teve em conta os interesses dos visitantes de Fátima, objecto de estudo de uma professora do IPL?

As centralidades, postas em termos demasiado bairristas, apesar de existirem e terem potencial, podem levar a que o reduto em que muitos se fecham implique secessão e o estrangulamento que dinâmicas exteriores poderão trazer.

A ADLEI já quis discutir o tema. É altura de voltar ao debate sério e sem pinças.

in Diário de Leiria, 12 de Setembro de 2011

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