MICAEL SOUSA
Associado da ADLEI
Cidadania, Democracia e Política são conceitos que estão interligados mas que muitas vezes, por preconceito, desinformação ou desilusão com acontecimentos sobre os quais somos supostamente informados, são vividos separadamente, o que resulta numa “fraca” sociedade civil. Será um problema de (pre)conceitos? Então veja-se. Cidadania, pode ser vista, como o modo do cidadão viver e concretizar a sua integração na sociedade em que se insere – uma relação com direitos e deveres. Política é o modo de actuar, pensar e participar na sociedade, pois o termo advém de polis (que se pode definir como a própria sociedade). Ou seja, fazer política é interessar-se pela sua sociedade e participar activamente em tudo o que dela e a ela diz respeito – uma clara relação com o exercício da cidadania activa. Já a Democracia (que significa «governo do povo»), para que realmente exista em toda a sua plenitude, requer, obrigatoriamente, um conjunto de cidadãos que exercem a sua cidadania de um modo político activo e interventivo. Assim, se os cidadãos - o povo - não estiverem disponíveis para se governarem o próprio conceito de Democracia simplesmente, enquanto prática, deixa de fazer sentido. Uma democracia sem cidadania activa seria como uma monarquia sem rei – simplesmente não funcionaria ou teria de se chamar outra coisa.
Então, se queremos defender uma melhor Democracia, temos de assumir os nossos actos de cidadania também como políticos (e vice-versa), enquanto acções que expressam o nosso envolvimento, interesse e disponibilidade para contribuirmos para a causa pública. Só os eremitas, que vivem isolados, se podem definir como completamente apolíticos. Este tipo de apologia é tudo menos nova, tem pelo menos 25 séculos de história e remonta ao período grego clássico, especialmente à polis de Atenas - o berço da Democracia. Os antigos gregos chegaram mesmo a inventar um termo pejorativo para caracterizar aqueles cidadãos que se alienavam do exercício da cidadania (ou política). Utilizavam a palavra «Idiotes», que significava “homem privado”, para adjectivar todos aqueles que se excluíam voluntariamente da participação dos assuntos públicos. Mais tarde o termo evoluiu para outros significados. Para os Romanos «Idiota» Significava então alguém com limitadas capacidades e/ou incapacidade de exprimir ideias e levar a cabo actividades complexas.
Hoje infelizmente muitos tornam-se idiotas (segundo o significado grego) devido à acção de outros idiotas (segundo o modelo romano). Que se combata a idiotice através da participação cívica e política.
in Diário de Leiria, 15 de Fevereiro de 2011