terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Escrita e cidadania

ACÁCIO DE SOUSA
Ex-Presidente da ADLEI


Escrever sobre cidadania? O tema nunca está esgotado, mas pode parecê-lo graças à redundância de muitos discursos. Porque não começar, então, por fazer uma pequena reflexão sobre o próprio acto da escrita?

Por exemplo, quem lê e o que valem os artigos de opinião ou outras prosas escritas?

Desconheço até que ponto a imprensa, sobretudo a regional, tem aferido os índices de leitura no que toca aos seus cronistas, mas La Palisse diria que se relacionam directamente com o autor, o conteúdo, a dimensão e o estilo do texto.

Não será pela vacuidade de alguns escritos, sobretudo quando se banalizam por insistência, que escrever não deixa de ser importante. Para quem exerce cargos públicos deveria ser um modo de evidenciar quem é, e o que pensa enquanto zelador de deveres cívicos. Para especialistas desta ou aquela área, deveria ser um momento de pedagogia. Para muitos outros, será um direito de cidadania ao expressarem o que lhes vai na alma. Fica, acima de tudo um testemunho, mesmo que não seja muito lido. O papel social da imprensa também passa por aqui.

De qualquer das formas, há quem escreva convictamente; há quem o faça à medida dos ventos que sopram bolinando na forma que melhor lhe convém; há quem enfaticamente disserte nas trincheiras de um jornal ou da mesa do café sem de lá sair quando lhe é pedido que ponha as suas ideias em acção.

Todavia, mais preocupantes são aqueles que, exercendo cargos de representatividade, nunca deixaram escapar publicamente um registo do que pensam sobre as estratégias nas áreas que estão a seu cargo, de forma a dar a conhecer àqueles que representam dados que permitam um outro envolvimento social no apoio ou na consciência crítica.

Isto ora acontece a nível nacional como regional. Na verdade, quando tanto se fala em equipas que fortaleçam lideranças, se o país ou uma região não conhecem o pensamento de parte dos seus protagonistas, ou nem os próprios, cria-se um deficit de cidadania por falta de informação e participação, debilitando uma verdadeira aposta no desenvolvimento.

Já agora, resta saber também o que vale o que aqui é escrito.

in Diário de Leiria, 3 de Janeiro de 2011



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